História do Departamento de Matemática e Engenharias

A Universidade da Madeira foi criada em 1988 e nos seus estatutos, propostos pela primeira Comissão Instaladora, previa-se a existência de Unidades Orgânicas de Ciências Exactas e Naturais, Letras, Engenharia e Educação Física, às quais se agregava a integrada Escola Superior de Educação. Os primeiros Matemáticos da Universidade, contratados logo desde início, inseriam-se na referida Unidade de Ciências Exactas. A Unidade de Engenharia só mais tarde viria a ter docentes a tempo inteiro. São desta época três contratações que viriam a ter um papel fundamental no desenvolvimento do DME e da própria Universidade: Rita Vasconcelos, Margarida Faria e Ludwig Streit. Os dois últimos, aliás, contam-se certamente entre os primeiros doutorados contratados pela Universidade da Madeira.

A primeira Comissão Instaladora nunca viria a terminar o seu mandato e, com a sua queda, a referida proposta de estatutos caiu também. Com o advento de uma segunda Comissão Instaladora e, sobretudo, com a contratação de doutorados em Química e Biologia, cedo se verificou que uma Unidade de Ciências Exactas teria dificuldades de funcionamento o que, em termos práticos, conduziu a uma gestão "de facto" independente destes dois grupos relativamente ao grupo de Física e Matemática que, nesse período, esteve a cargo dos Professores Ludwig Streit e Margarida Faria. Esta situação viria a manter-se mesmo após a queda da segunda Comissão Instaladora. Na fase terminal da anterior e início da terceira Comissão, os grupos de Matemática e Física afirmaram-se como dos mais dinâmicos da Universidade tendo sido mesmo os que mais contratações de doutorados fizeram, contando, por volta de 1994, com cerca de metade dos doutorados da Universidade. Em particular, o primeiro doutoramento da Universidade da Madeira, o da Professora Rita Vasconcelos, realiza-se por essa época. Dessa mesma época data a criação do CCM-Centro de Ciências Matemáticas, dirigido pelo Professor Ludwig Streit, agregando investigadores de Matemática e Física, bem como investigadores de outras Universidades nacionais e estrangeiras. A sua estrutura, extremamente dinâmica e flexível, desenhada pelo Prof. Ludwig Streit, cedo mostra a sua eficácia: na primeira avaliação dos Centros financiados pela FCT, o CCM teve logo a classificação de excelente.

O termo da terceira Comissão Instaladora coincide com a homologação dos primeiros estatutos da Universidade da Madeira que consagram os Departamentos como as Unidades Orgânicas da Universidade e concretizam a separação da Física e da Matemática que, por esse motivo, passam a funcionar, desde então, de forma independente. É neste quadro que se procede à eleição do primeiro presidente do Departamento, a Prof. Rita Vasconcelos, que viria a coordenar os destinos da Unidade até 2000. Entretanto, a unidade de Engenharia, cujo desenvolvimento tinha sido mais lento, ganha o estatuto de secção autónoma, sendo seus primeiros directores a Prof. Ana Isabel Cardoso e o Engenheiro Alberto Grilo.

Ambas as presidências podem caracterizar-se como sendo de construção. Com efeito, é durante este período que as duas Unidades, bem como todas as outras, se deslocam para o complexo da Penteada e para as suas instalações definitivas, que é necessário equipar. Prioridade máxima é dada à construção do corpo docente e, sobretudo, à formação dos seus elementos mais jovens e à aquisição de doutorados que estejam dispostos a instalar-se a tempo inteiro e definitivamente na Madeira. Foi uma política particularmente bem sucedida no caso do Departamento de Matemática que, dos quatro doutorados com que contava originalmente (Ludwig Strei, Margarida Faria, Rita Vasconcelos e José Castanheira), rapidamente vê crescer o seu número (José Luís Silva, Pedro Augusto, Custódia Rodrigues).

Em 2000 realizam-se os primeiros concursos para Professor Catedrático na Universidade. O segundo destes, por um escasso dia, é ganho por José Carmo, o nosso primeiro catedrático e actual decano da Universidade da Madeira. Estes concursos coincidem, grosso modo, com o termo da primeira reitoria eleita. Na mesma altura, cessa, também, o mandato de Rita Vasconcelos e inicia-se o consulado José Carmo que duraria até 2006. No que diz respeito ao Departamento de Engenharia, regista-se o termo do mandato de Alberto Grilo, que é sucedido pelo Prof. Joaquim Azevedo, primeiro doutorado da referida Unidade.

O consulado do Prof. José Carmo pode ser caracterizado como tendo três fases, cada uma correspondendo, mais ou menos exactamente, a cada um dos seus mandatos. O primeiro destes é, sobretudo, um mandato de consolidação e continuação do trabalho de Rita Vasconcelos. Datam dessa época, alguns doutoramentos (Sandra Mendonça. Maribel Gordon, Glória Cravo, Teresa Gouveia, Nuno Nunes), dos quais julgo ser de destacar o da Professora Sandra Mendonça, a primeira licenciada da Universidade da Madeira a doutorar-se. Mas é, também, uma época de desenvolvimento e aprofundamento do relacionamento com a Unidade de Engenharia. Aprofundamento que conduz à fusão das duas Unidades, em 200?, passando o conjunto a denominar-se Departamento de Matemática e Engenharias. Como quaisquer fusões deste tipo, esta envolvia riscos, embora ambas as Unidades a desejassem. O segundo mandato de José Carmo pode ser visto como tendo tido entre as suas tarefas essenciais, a de garantir que a adaptação a uma vida em comum dos dois corpos docentes se desse sem grandes problemas, tarefa que conduziu com um sucesso notável. Este segundo mandato é, em parte fruto desta união, um mandato de grande crescimento em número de doutorados, o reforço mais notável verificando-se nas áreas científicas das Engenharias. Reforço que conduziria, inclusive, a proposta de criação da área de Engenharia Civil, hoje já em funcionamento, e ao recrutamento do segundo catedrático da Unidade, o Prof. Artur Portela. O terceiro mandato foi, em geral, um mandato mais tranquilo, durante o qual os frutos do trabalho dos anos anteriores se foram concretizando. Cerca de 28 dos actuais 33 doutorados do DME eram-no já ao termo deste terceiro mandato. Terceiro mandato que coincide, ainda, com a participação de Nuno Nunes na equipa reitoral e a quem se deve, no essencial, a reforma relativa ao Processo de Bolonha da Universidade da Madeira. O termo de funções desta equipa reitoral coincide, grosso modo, com a termo de terceiro mandato do Prof. José Carmo, sendo eleito o Prof. Nuno Nunes em 2006 para presidente da Unidade. O seu mandato, que vai a meio, é, naturalmente, difícil de avaliar, mas dois factos, pelo menos, o marcarão certamente: a condução da transição para Bolonha, com a criação do primeiro ano comum, e a primeira "joint-venture" internacional de grande escala da Universidade da Madeira: o Professional Master desenvolvido em conjunto com a Carnegie Mellon University, dos EUA, na área da interacção homem-máquina.

A descrição acima é factual e pode mascarar alguns aspectos que são cruciais para entender o DME. Um destes é, certamente, a excepcional abertura do DME a investigadores e docentes das mais diversas origens. Com efeito, a maioria dos doutorados do DME não se licenciaram na Universidade da Madeira. Muitos fizeram-no mesmo fora de Portugal. E mesmo em termos de nacionalidades se pode verificar essa abertura. Da equipa fazem parte um austríaco (Ludwig Streit), um chinês (Ren Xianfeng), um argentino (Eduardo Fermé), uma croata (Karolina Baras), quatro brasileiros (Eliane Portela, Elci Alcione, Luís Carlos, Paulo Sampaio), uma mexicana (Laura Rodriguez) e um São-Tomense (Herlander Mata Lima). Esta abertura talvez explique porque se deu tão bem entre nós Gueorgui Semenovich Litvinchuk, professor catedrático convidado do DME, professor da Universidade de Odense e membro da Academia Ucraniana de Ciências, falecido em 2006, que sempre lembraremos como um dos nossos.

Castanheira da Costa